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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Osmar Santos : é o cara!!! O Pai da Matéria....

Final do Campeonato Paulista de 1977


Invasão Corinthiana em 1996 por Osmar Santos


Gol de Tupãnzinho em 1990


O Pai da Matéria :




Brasil x Itália 1994


Gol de Raí 1992 Final Interclubes

sábado, 7 de março de 2009

Osmar Santos











Nesta Foto que encontrei na Revista Placar de 1988, o nosso "Garotinho" estava trabalhando e fazendo sucesso na Rádio Record.





































OSMAR SANTOS


Osmar Santos nasceu em Osvaldo Cruz, interior de São Paulo, em 28 de julho de 1949. Passou a infância em Marília, para onde seus pais Romeu e Clarice se mudaram. Foi também na cidade do interior paulista que começou a trabalhar no rádio, veículo que o tornaria conhecido no Brasil inteiro pelo estilo incomparável nas transmissões esportivas. Era inovador, cheio de jargões e criativo, capaz de ditar moda entre os amantes do futebol e deixar inúmeros discípulos. No entanto, um acidente ocorrido no dia 22 de dezembro de 1994, na estrada que liga Marília a Lins, no interior de São Paulo, encerrou sua brilhante carreira. Ao acordar no hospital, estava com a parte direita do corpo paralisada, conseqüência de traumatismos no cérebro. Após muitas sessões de fisioterapia e fonoaudiologia, voltou a pronunciar palavras, além de ter recuperado parte da coordenação motora. Mas jamais retornou ao microfone. Atualmente, comanda a equipe de esportes da Rádio Globo de São Paulo, ao lado de seu irmão Oscar Ulisses. Além disso, utilizando-se da mão esquerda, pinta quadros que já foram expostos em inúmeros eventos. Adotada como terapia logo após o acidente, esta manifestação não-verbal o fez receber vários elogios. Suas telas foram avaliadas por mestres da pintura como poéticas, com cores vibrantes e iluminadas.Osmar fez história em algumas das maiores emissoras paulistanas como Jovem Pan, Record e Globo. Extremamente ágil e tecnicamente perfeito nas narrações, ganhou notoriedade pelos jargões que caíam facilmente na boca do povo, tais como ‘ripa na chulipa e pimba na gorduchinha’, ‘é lá que a menina mora’, ‘é fogo no boné do guarda’, ‘pisou no tomate’ e ‘bambeou mas não caiu’. Sem falar, é claro, do inesquecível ‘iiiiiiii que golllllllllllllllll’, a cada vez que a bola balançava as redes.No auge, chegava a pronunciar 100 palavras por minuto sem engasgar nenhuma vez. A dramaticidade que impunha a cada lance era capaz de prender o ouvinte durante a partida inteira. Conseqüência direta de sua veia poética aguçada. Osmar devorava obras de nomes como Carlos Drumond de Andrade, Camões e Eça de Querós.Osmar trabalhou também na televisão. Passou pelas redes Globo, Record e Manchete, mas vale destacar sua participação no inesquecível ‘Balancê’, programa de variedades que fez história. Em 1984, ficou conhecido como o ‘locutor das Diretas’ devido a seu engajamento na campanha que pretendia instituir novamente as eleições diretas para presidente do Brasil. Subiu no palanque ao lado de ícones da política nacional como Franco Montoro, Leonel Brizola e Luis Inácio Lula da Silva.
Por Marcelo Rozenberg




Uma história de luta e de vitórias, esta a mais dificil de sua vida :
20 de novembro de 1996
Virando o jogo
da vida



A luta diária de Osmar Santos
para recuperar-se das seqüelas
deixadas pelo acidente de carro
que sofreu há quase dois anos
Durante um almoço num restaurante italiano em São Paulo, há poucos dias, Osmar Santos transfigurou-se por um instante tão fugidio quanto inesquecível. Seus olhos deixaram de passear pelo ambiente para fixar-se no irmão Oscar. A expressão do rosto, habitualmente entre risonha e contemplativa, ganhou firmeza. Alguns segundos de silêncio depois, a frase surgiu espontânea, bem escandida:
- Eu que-ro tra-ba-lhar.
Uma descarga de emoção percorreu a mesa. Com os olhos rasos d’água, voz embargada, Oscar apenas conseguiu responder:
 - É para isso que você está se esforçando. Você vai sair dessa, garoto.
Osmar Santos está tentando sair dessa há quase dois anos, desde que sofreu um devastador acidente de automóvel. À primeira vista, é difícil acreditar que ele, tal como se apresenta hoje, foi um dia aquele Osmar Santos com quem o Brasil vibrava - o locutor de rádio que levou a descontração para as transmissões dos jogos de futebol, o animador dos comícios pelas eleições diretas para presidente, o hiperativo que cumprimentava todo mundo. Hoje, sua figura causa um choque. Cabeça baixa, olhos grudados no chão, ele caminha arrastando penosamente a perna direita. Para que seu pé direito não torça para fora, desequilibrando-o, Osmar usa uma armação de metal acoplada à bota de sola de borracha reforçada. O braço direito pende inerte de seu ombro caído e, na extremidade, a mão é um fardo a mais que ele carrega, resignado. Conversar com ele requer paciência. O Osmar de papo animado com os amigos, o profissional capaz de narrar um jogo ao ritmo espantoso de até 100 palavras por minuto - bem pronunciadas e entremeadas por expressões de marca registrada, como 'ripa na chulipa e pimba na gorduchinha' - deu lugar a um afásico. Para comunicar-se, ele usa somente trinta vocábulos, incluindo nomes próprios e interjeições, além de gestos muitas vezes indecifráveis.
Comparado ao antigo Osmar Santos, o atual é uma sombra trôpega. Não é assim, porém, que ele é visto pela família, os amigos e os profissionais envolvidos na sua recuperação. O Osmar de dar pena é, na verdade, um prodígio da neurocirurgia, da fisioterapia, da fonoaudiologia. Da força de vontade e da disposição de lutar, o que para a grande maioria seria um embate impossível. Há vinte anos, sem o avanço acelerado das técnicas nesses campos do conhecimento humano, Osmar provavelmente estaria morto ou vivendo em estado vegetativo. O único milagre, por assim dizer, foi sobreviver à noite de 22 de dezembro de 1994, uma data indelével no corpo de Osmar Santos e na memória dos que o cercam.
Ele estava em Marília, no interior de São Paulo, juntamente com a mulher, Rosa Maria, e os filhos, Victor e Lívia. Seu último compromisso do ano era um almoço de confraternização no dia seguinte, com os funcionários da concessionária de automóveis da qual é sócio, na cidade de Birigui. Depois do jantar, intempestivamente, resolveu viajar para Birigui naquela mesma noite, apesar da chuva. Ao volante da Mercedes comprada na semana anterior, Osmar enveredou pela estrada. Em sentido contrário à Mercedes, vinha o técnico em eletrônica Márcio dos Santos, dirigindo uma caminhonete. Na altura da entrada para a cidade de Getulina, ambos avistaram um caminhão atravessado na pista, fazendo uma manobra irregular. Márcio conseguiu desviar. Osmar não.

Cimento acrílico - No momento em que o locutor buscava o espaço entre a traseira do caminhão e a margem da rodovia, o motorista do caminhão, bêbado, deu ré. A quina da carroceria atravessou o vidro da frente do carro, arrebentando o crânio de Osmar, na região frontotemporal acima do olho esquerdo. Com o impacto, o carro só parou depois de despencar numa ribanceira. Osmar teria se esvaído até a morte, não fosse Márcio ter olhado pelo vidro retrovisor e retornado para salvá-lo. Levado para o centro cirúrgico da Santa Casa de Lins uma hora e cinqüenta minutos depois da batida, Osmar, em estado de coma profundo, jorrava sangue pela cabeça. Ele perdeu 3 litros, metade do volume total de um homem adulto. A cabeça de Osmar era uma pasta informe, em que se misturavam massa encefálica, terra e pedaços de crânio esmigalhado. Feita uma rápida limpeza na área, os médicos localizaram a fonte de sangramento: a artéria cerebral média. Com os meios de que dispunham, era impossível reconstituí-la. A única saída era fechar a artéria. Assim foi feito.
Transferido de avião para São Paulo, ele deu entrada no Hospital Albert Einstein. O sangramento não cessara por completo e do dreno ainda saíam pedaços de cérebro. Estima-se que no total ele tenha perdido de 4% a 5% de massa encefálica, mas é impossível calcular ao certo. Foi preciso abrir outra vez a cabeça do locutor, agora utilizando os recursos da microcirurgia. Ao longo de seis horas, a equipe do Einstein fez uma faxina, retirando coágulos e tecido necrosado. Para complicar o quadro, o locutor sofreria um edema pulmonar e uma trombose na perna direita. Osmar só teve alta dois meses depois do acidente. O locutor voltou ao hospital em outubro de 1995, para ter recomposta com cimento acrílico a parte do crânio destruída na batida, que havia deixado um buraco de 6 centímetros de diâmetro em sua cabeça, recoberto apenas por pele. Hoje, Osmar faz um eletroencefalograma a cada seis meses e toma apenas um remédio, um anticonvulsivo.
Embora o acidente tenha lesionado áreas que, nos compêndios de medicina, estão relacionadas à motricidade, à expressão verbal e à compreensão, ninguém arrisca dizer se Osmar já chegou ou não ao limite de sua recuperação. Ou melhor, de adaptação às suas novas condições cerebrais. Na verdade, o fato de ter readquirido parte dos movimentos, de entender o que lhe dizem e de balbuciar algumas frases não é só prova dos avanços da medicina. Sua reabilitação também mostra que pouco se sabe sobre o funcionamento do cérebro. Pela teoria localizacionista ortodoxa, segundo a qual a cada parte do cérebro corresponde uma função específica, seria impossível Osmar chegar ao ponto em que está. Para sorte do locutor, no entanto, essa visão, surgida no final do século XIX, está perdendo força, confrontada com casos incríveis de readaptação neurológica. Como afirma o neurologista inglês Oliver Sacks no livro Um Antropólogo em Marte, 'a ocorrência dessas adaptações radicais exige uma nova visão do cérebro, não mais como programado e estático, mas como dinâmico e ativo, um sistema altamente eficiente, capaz de moldar-se incessantemente às necessidades do organismo'.
Existem caminhos conhecidos pelos quais o cérebro executa determinadas funções, mas eles não são únicos. Quando se fala em partes do cérebro responsáveis por sentidos, movimentos e sensações, isso não significa que, em caso de lesão nessas áreas, a pessoa perderá necessária e irremediavelmente tais capacidades. Há as chamadas áreas de associação, que, se estimuladas de maneira correta e sistemática, podem restabelecer algumas dessas funções. É esse o trabalho dos fisioterapeutas, fonoaudiólogas e terapeuta ocupacional que cuidam de Osmar Santos. Ainda no hospital, logo depois de esboçar um pequeno sinal de que não fora reduzido ao estado vegetativo (um sorriso em direção a Oscar), o locutor começou a fazer fisioterapia, com Fátima Gobbi, e sessões de fonoaudiologia, com Wânia Secaf e Clara Hori. No início, Osmar nem sequer se sentava - não conseguia coordenar os músculos para poder fazê-lo. Seu estado de confusão mental e desorganização motora era tão grande que ele não atendia às ordens para movimentar essa ou aquela parte do corpo, simplesmente porque não entendia o que era mão, pé ou ombro. 'Eu precisava apontar a região que desejava exercitar', diz Fátima. Até pouco tempo atrás, Osmar também não conseguia andar e fazer outra atividade ao mesmo tempo. Atualmente, é capaz de balbuciar ao celular ou mastigar enquanto caminha.

Ritmo inclemente - O locutor passa a semana suando a camisa em tratamentos de reabilitação. Seu ritmo é inclemente. Todos os dias, tem sessões de fisioterapia e fonoaudiologia. Duas vezes por semana, faz terapia ocupacional e cai na piscina para a hidroterapia - dentro d’água, assistido por Rita e Enzo Labronici, exibe uma alegria infantil, entre mergulhos e massagens. Às quartas-feiras, durante uma hora, com eletrodos ligados ao corpo, ele faz força diante de uma tela de computador, em sessões de biofeedback na Fundação Selma. A máquina fornece um registro visual dos impulsos nervosos que chegam aos músculos exercitados e, por meio dele, dizem os especialistas, o cérebro do paciente acabaria reaprendendo a utilizar e coordenar os movimentos. Apresentado como panacéia no caso de Osmar, o biofeedback tem, na verdade, pouco peso na sua recuperação.
Graças ao trabalho da terapeuta ocupacional Cecília Biesemeyer, nos últimos sete meses ele adquiriu uma grande autonomia. Não precisa mais de ajuda para ir ao banheiro, tomar banho e fazer a barba, com barbeador elétrico. Osmar aprendeu a levantar-se da cama sem a ajuda de ninguém e a trocar de roupa sozinho. Como não pode contar com a mão direita, ele usa a boca para desabotoar o botão da manga esquerda. Sua última conquista foi amarrar os sapatos, com um tipo de laço que não exige as duas mãos. No plano da linguagem, a área nobre do cérebro de Osmar, o trabalho é árduo. No dia-a-dia, a tendência geral é seus interlocutores bancarem os ventríloquos, tentando adivinhar seu pensamento, o que não ajuda na tarefa das fonoaudiólogas.
Para obter uma comunicação mais rápida, Osmar utiliza um vocabulário restrito, em que predominam 'bom', 'ótimo' e 'pouco' - que tanto pode ter o sentido correto como o de 'perto' ou 'mais ou menos'. Outra palavra usada por ele é 'fui', para dizer que quer ir embora ou que já está indo. O 'fui' de Osmar, que ele criou antes do acidente, passou a ser utilizado como forma de homenagem pelo comediante Tom Cavalcante, no programa Sai de Baixo. Todos os dias, ele almoça e janta fora, com Oscar e seu irmão mais novo, Odinei. Para saber a qual restaurante o locutor quer ir, a pergunta inicial é 'carne, peixe ou massa?' Definida a preferência (quase sempre é carne), a etapa seguinte é procurar saber o nome do lugar. Como Osmar adora conhecer restaurantes novos, essa é uma tarefa complicadíssima. Ele é solicitado a dar uma indicação geográfica (seu senso de direção é aguçado), a gaguejar sílabas, a desenhar letras no ar. Muitas vezes, Oscar e Odinei não entendem esses códigos, o que os obriga a declamar uma lista extensa de nomes até chegar ao escolhido pelo irmão.

Oscar e Oscar - Uma das características da afasia de Osmar é a dificuldade de tecer certas relações. Numa quinta-feira, por exemplo, ele decidiu que queria jantar no restaurante Oscar, mas nas indicações que forneceu não mencionou a mais simples - o nome do irmão. Quando finalmente se descobriu onde ele desejava comer, o irmão perguntou, espantado: 'Por que você não disse meu nome?' Resposta: Osmar não fez a associação entre restaurante e irmão, porque seu cérebro não estabelece esse tipo de coincidência, não realiza curtos-circuitos puramente formais. No momento em que procura uma palavra no seu arquivo mental, ele precisa de referências contextuais concretas. Como têm significados completamente diferentes, Oscar/restaurante e Oscar/irmão são pastas estanques em sua mente, uma não remete à outra.
Osmar consegue somar, subtrair, fazer multiplicações simples, mas não divide - a não ser que a divisão esteja diretamente relacionada a um fato concreto, como a repartição de uma conta de bar. Na conta 693 mais 615, ele se confundiu depois de transpor a dezena que resultou da soma do 9 e do 1. Adicionou os dois 6, mas esqueceu o 1, escrevendo 1 208 em vez de 1 308. Só acertou depois de ser advertido. As sessões de fonoaudiologia visam devolver a rapidez de raciocínio e aumentar sua expressão verbal a partir da reorganização da linguagem, que se encontra embaralhada na cabeça de Osmar. Quando busca uma palavra, seu cérebro encontra uma outra no meio do caminho, ou não consegue organizar os músculos e articulações da fala para que façam os movimentos necessários para enunciá-la. Por isso, para emitir o som correspondente ao c de 'com', por exemplo, ele não raro precisa de uma carona - seu interlocutor deve apontar para a garganta, de onde o som da palavra sai. 'Ainda lhe falta disponibilidade para palavras com pouco peso semântico, como artigos e preposições', explica Clara Hori.

'Bumbum' - As fonoaudiólogas utilizam um caderno para transcrever as perguntas que surgem nas sessões, sempre relacionadas à experiência cotidiana do locutor. Depois, pedem-lhe que escreva as respostas dadas verbalmente ou por meio de gestos e desenhos. Assim como não ocorrem a Osmar os sons das sílabas, também lhe fogem os sinais gráficos correspondentes, seja na hora de ler, seja na de escrever. 'Bahia' pode virar 'Bohos', num tipo de letra que lembra o de uma criança recém-alfabetizada. Quando a dificuldade é intransponível, as fonos dão um empurrãozinho, escrevendo as palavras para que ele as copie. Fala e escrita são operadas por canais diferentes no cérebro, mas a linguagem escrita é uma referência para Osmar engatar a verbal.
Osmar Santos continua a ser Osmar Santos no bom humor com que encara seus obstáculos e na alegria de viver. O carisma, a capacidade de liderança e o poder de expressão ainda afloram, nas condições que hoje são possíveis. Nas tardes livres, gosta de dar uma passada no Clube Pinheiros para apreciar 'bumbum', como diz, referindo-se a moças bonitas. Sempre que possível, ele desce para o Guarujá. No balneário, longe da vigilância dos irmãos, senta-se ao volante do carro com câmbio automático e dirige pelas ruas do condomínio onde fica sua casa. Também é presença assídua nas platéias de comédias teatrais, como Cinco Vezes Comédia e Trair e Coçar É Só Começar. Aparentemente, consegue entender a maior parte das piadas.
Há, é claro, momentos de depressão. Encerrado em si mesmo, sua solidão é cósmica, a despeito da festa constante ao seu redor. Não dá para imaginar o que seja o sofrimento de um homem que não pode dar uma palavra de carinho à pessoa amada, que não tem meios de bater um papo descompromissado com o filho, que não pode expressar suas angústias a um amigo. O destino tolheu a palavra de Osmar, justamente a sua ferramenta de trabalho, o seu dom natural e precioso, com o qual alcançou a fama e o carinho de milhões de pessoas. De vez em quando, ele chora, como um menino que recebeu um castigo injusto. A tragédia que se abateu sobre Osmar não teria sido tão grande se houvesse apenas paralisado suas pernas e o colocado para sempre numa cadeira de rodas. Nesse caso, pelo menos, ele ainda estaria lá, diante do microfone, movendo-se pelos ares com as ondas do rádio. Mas não lhe é permitido nem mesmo sonhar com essa possibilidade. Sonhos, só os de olhos abertos. As noites de Osmar não têm imagens, reminiscências ou pesadelos. 'Não sonho mais', diz, com uma ponta de tristeza.
Um desastre dessas dimensões não poderia deixar de ter conseqüências na vida familiar. É natural que surjam atritos entre parentes interessados em proporcionar o melhor dos mundos à vítima, mas que nem sempre concordam sobre a maneira mais adequada de fazer isso. Rosa e os irmãos de Osmar, intensamente dedicados a ele, não se estão entendendo muito bem. Terminada a fase de emergência, em que todos abdicaram de suas próprias vidas para salvar a de Osmar, o saldo de discordâncias e ressentimentos é razoável. Eles não conseguem mais se sentar à mesma mesa generosa de Osmar. Depois de passar mais de um ano cuidando exclusivamente do marido, Rosa resolveu trabalhar pela primeira vez na vida. Formada em direito, dá expediente num escritório de advocacia criminal, no centro de São Paulo. 'Osmar está mais independente e, agora, preciso ocupar minha cabeça com outras coisas', diz ela. 'Eu me recuso a tratá-lo como um débil mental', acrescenta. No último aniversário do locutor, Rosa e os filhos estavam viajando. Acabou sendo um dia triste para ele.
Victor, de 10 anos, e Lívia, de 8, são outro capítulo difícil. A comunicação entre Osmar e os filhos é praticamente nula, e não se sabe como se está formando a imagem paterna em suas cabecinhas. Na época do acidente, o menino, que tinha no pai o ídolo máximo, fez Rosa cair no choro ao afirmar que não acreditava mais em ninguém, nem em Deus. O desabafo, forte demais para uma criança, deu a medida de seu sofrimento. Hoje, Victor ainda demonstra um certo distanciamento em relação a Osmar. Quando há amigos presentes, esquiva-se de seus carinhos. 'Tudo tem solução, desde que se tenha em mente que a principal vítima é Osmar', diz Odinei. Osmar decerto é uma vítima. Mas o seu empenho em melhorar, em se superar, é um exemplo de coragem e tenacidade. Se há heróis de carne e osso, Osmar Santos é um deles.

Posses - A solução no caso de Osmar passa também por um outro prodígio - o do dinheiro. Sua reabilitação custa, evidentemente, uma fábula. Desde a noite do acidente, gastaram-se 600 000 reais com Osmar. Os 500 000 iniciais foram pagos integralmente pela empresa de assistência médica à qual é associado. As despesas atuais com os diversos tratamentos, de 6 000 reais por mês, são divididas entre Osmar e a empresa. Em troca, o locutor desembolsa pelo plano familiar uma mensalidade de 870 reais, e ainda permite que a assistência o use informalmente como garoto-propaganda. Aos 47 anos, Osmar é um homem de posses. Tem um belo apartamento no bairro de Higienópolis e uma casa de praia num dos melhores condomínios do Guarujá, entre outros imóveis. O locutor circula numa Mercedes, dirigida pelo fiel escudeiro, Mozart Conceição, e sua mulher pilota um desses utilitários importados que são o sonho de consumo de muita gente. Além de ser sócio de uma concessionária no interior do Estado, ele tem participação na produtora de vídeo TVN, que cultiva clientes de porte como a Mercedes-Benz, o Sesi, o Bradesco e a Fundação Roberto Marinho. Osmar Santos recebe todo mês um ótimo salário da Rádio Globo, que está para renovar seu contrato como um dos diretores de esporte da emissora pela terceira vez desde o acidente. O outro diretor é Oscar.
Pode-se dizer que Osmar vive, hoje, da imagem que construiu ao longo do tempo. Ele não tem condição de pegar no batente e, por mais que se recupere, não poderá voltar a transmitir jogos. Virou uma espécie de marca, e tem perfeita consciência disso. Tanto que faz questão de aparecer em público, para não ser relegado ao esquecimento, e freqüentemente procura almoçar com anunciantes em potencial para a emissora da qual é contratado. Na Rádio Globo, reafirma-se a toda hora que a equipe esportiva é comandada por Osmar Santos. Ele sempre dá um alô nas transmissões dos principais jogos de futebol - no mês passado, pegou o microfone para gritar 'Mamãe!', depois de uma bola raspada na trave. Uma vez por dia, os gols narrados por ele antes do acidente são reprisados no ar. O nome de Osmar Santos continua a morar no coração dos torcedores, generosos nas demonstrações de carinho quando ele chega aos estádios e, o que é mais importante, fiéis na audiência. Na área esportiva, a Globo é líder absoluta em São Paulo, com 50% dos ouvintes. Mesmo debilitado, entusiasmo e energia permanecem dois dos melhores atributos de Osmar. Odinei lembra que, nas peladas semanais que disputava, seu irmão gostava de começar perdendo para poder virar o jogo. Todos fazem força para acreditar que a recuperação de Osmar Santos ainda está no primeiro tempo.

Campo de batalha
Linguagem
 Sessões diárias de uma hora de duração, com duas fonoaudiólogas, que se revezam, permite a Osmar melhorar sua expressão verbal. Há um ano, demorava quase quarenta minutos para dizer o que havia tomado no café da manhã. Hoje, leva menos de um minuto. Ele também já consegue responder a algumas perguntas sem estar de frente para o interlocutor
 Ombro, tronco e quadril
 De forma coordenada, a fisioterapeuta, a terapeuta ocupacional e os dois hidroterapeutas estão trabalhando os músculos que têm a função de encaixar o braço no ombro. A harmonia desses músculos propiciará maior funcionalidade ao braço e à mão direitos. Fortalecer o tronco, encaixando o quadril, é fundamental para que Osmar melhore o seu andar
 Braço e mão
 Ele consegue movimentar um pouco o braço, num esforço sobre-humano. Sua mão encontra-se totalmente paralisada. A boa notícia é que ele começa a ganhar estabilidade no punho direito, o que aumenta suas chances de readquirir movimento
 Perna e pé
 Além do déficit motor causado pela lesão cerebral, a perna de Osmar sofreu uma trombose quando ele ainda estava no hospital. A hidroterapia ajuda a diminuir os inchaços causados pelo problema circulatório. As sessões de biofeedback vêm trabalhando o quadríceps, músculo importante para a extensão do joelho. Afim de evitar torções, Osmar usa uma armação de metal para ajustar a planta do pé ao chão